O DOCMontevideo vale duas viagens

Master class. Pitchings. Marta Andreu. Eis os principais temas que levaram a conhecer o DocMontevideo em 2013. Porém, se as master classes e os pitchings já eram certezas, a grande surpresa ficou por conta de Marta Andreu, uma professora genial da Universidade Pompeu Fabra e que é capaz de passar dias mantendo teso o arco da conversa sobre documentarismo por dias a fio.



AS LOCAÇÕES
O DocMontevideo/2013 ocorreu no Teatro Solis e também na famosa Torre da Anatel. O Teatro acolheu as principais exibições comentadas e também os pitchings. O Solis fica na região central de Montevideo, então uma boa opção pra quem quer frequentar o festival é o "Hotel Splendido": ele fica em frente ao Solis e, além disso, a sua rua à noite se transforma numa espécie de "Augusta" de Montevideu, há bares para todos os gostos.

Por sua vez, a Torre da Anatel acolheu as Master Classes da Marta Andreu. O acesso à Torre é meio complicado, já que ela fica numa região industrial, um tanto inóspita. Então, é preciso se preparar para frequentar as aulas por ali porque não há um comércio ao redor pra vender sequer um café que nos ajude a suportar o frio.

MASTER MARTA ANDREU CLASSES
Uma das curadoras do festival, a Marta ministrou uma série de aulas sobre documentarismo contemporâneo tendo como principal recorte a construção da temporalidade. Em outras palavras, ela tratou de abordar uma série de filmes que problematizam a noção de tempo na construção da linguagem documental. Dentre as muitas referências marcantes de seus encontros, eu citaria o cinema de Lech Kowalski, um polônes globetrotter citado muitas vezes até que tivemos a oportunidade de bater um papo como ele via skype: o detalhe é que ele estava encurralado num rincão do Leste Europeu acompanhando a luta de fazendeiros contra a presença da Chevron. Penso que o cinema de Kowalski era uma referência constante nas apresentações de Marta devido à tênue fronteira que existe entre sua biografia e sua filmografia. Além disso, talvez seja interessante notar que Kowalski apresenta um cinema urgente no sentido de guardar uma íntima relação com os fatos; no sentido de se valer de uma estranha simbiose com a história, pois à medida que ele registra os acontecimentos, suas câmeras também definem os fatos que, de maneira recíproca, definem sua linguagem documental. Kowalski talvez seja uma espécie de borderliner: seu cinema é uma lanterna na proa do contemporâneo.

PITCHINGS
Esses eventos foram uma grande experiência, pois através deles é possível ter um bom exemplo de como é possível estimular o cinema independente fomentando contato direto e dinâmico entre os realizadores, produtores e distribuidores. Para quem não sabe o que é um "pitching": o festival convida produtores e distribuidores do mundo inteiro interessados em documentário independente, por exemplo o Canal Futura, o National Film Board (Canadá), ARTE (Fra/ Ale), Al Jazeera, gente da Venezuela e de Cuba, enfim. O realizador se senta à mesa composta pelos distribuidores e tem, no máximo, sete minutos pra dar conta do recado: falar de seu projeto, apresentar um teaser e pedir uma grana para a realização ou finalização do filme. Ou então apoio para sua divulgação. Toda essa negociação é pública, ou seja, pode ser acompanhada pelo público em geral, e isso é uma coisa que muito estimulante, já que promove contatos e intercâmbios de experiências.


VENI VIDEO DOCMONTEVIDEO: VALE DUAS VIAGENS

O DocMontevideo é para se conhecer várias vezes. Primeiro porque o festival é bem organizado: todos meus emails foram respondidos em tempo e as solicitações formais (protocolos e certificados) foram entregues. Além da pontualidade, os eventuais cancelamentos e mudanças de horário e locação sempre foram divulgados em tempo hábil.  Além de tudo, vale dizer que a programação é um prato cheio para quem pesquisa documentarismo ou, ao menos, gosta de envolver com esse tema. O público é envolvente e isso faz com que exista boas trocas de contatos e experiências. Para quem ainda precisa de mais estímulos, estou certo de que esses ficam por conta do liberalismo uruguaio.

Abraços!
Fábio Monteiro